Para você, que foi embora
Não consegui me despedir direito naquela noite. Não consegui pensar em nada, para ser sincera. Não conseguia me ouvir, não conseguia distinguir os sentimentos e os pensamentos que se misturavam aqui dentro. Era como se, com toda aquela confusão de emoções distintas, opostas, confusas e borradas, não sobrasse espaço para a razão.
Eu não conseguia formular frases conexas que pudessem explicar o que eu estava sentindo. Eu não sabia o que eu estava sentindo. E então, eu me calei.
Vi você partir sem falar uma palavra. Sem balbuciar som algum. Nem um adeus. Nem um suspiro sequer. Vi você partir e não tive condições de expressar nada daquela tormenta que me habitava. Não tive condições de me despedir.
Você largou aquele maldito bilhete em cima da cama, pegou a caixa com as suas coisas e saiu porta a fora. Sem olhar pra trás. Sem dizer adeus também. Sem hesitar por um segundo que fosse.
Você foi embora e eu não sabia como reagir.
Não sabia o que pensar.
Não sabia o que fazer.
Não vou mentir e dizer que eu não esperei que você voltasse atrás e entrasse por aquela mesma porta dizendo que ia ficar tudo bem. Eu esperei muito por isso. Fiquei sentada ali, na beira da porta, imóvel, sem sequer levantar para fechá-la esperando por você. Mas você não voltou.
Você foi embora e não olhou para trás.
Passei noites seguidas abraçada aos travesseiros chorando baixinho e tentando entender, tentando digerir tudo aquilo que havia acontecido. Procurando em cada detalhe dos últimos anos onde é que havíamos nos perdido.
Custou mais lágrimas do que eu seria capaz de contar e muito mais noites do que gostaria de admitir compreender que aquilo tudo não se tratava de um final. Não se tratava de eu e você nos perdendo. Mas sim de um recomeço. De uma nova chance. Era você decidindo se encontrar e me dando a chance de fazer o mesmo.
Foram tantos anos compartilhando tudo que em algum momento deixamos de existir por completo. Passamos a ser um mero rascunho da individualidade que um dia tivemos. E doeu. Doeu muito admitir isso para mim. Assim como deve ter doído para você admitir para si também. É difícil compreender que as vezes alguns ciclos precisam se fechar para que novos ciclos, ainda melhores, sejam capazes de existir.
Eu não me despedi naquela noite. E hoje sei que despedida nenhuma poderia ser melhor que aquele bilhete, aberto dias depois.
"Sorria. A vida continua cheia de caminhos felizes para descobrirmos."
Caiu um cisco no olho depois dessa frase do bilhete. Já me senti - em partes - parecida com o que fala no texto, e depois de algum tempo comecei a pensar a mesma coisa sobre novos ciclos. Com o tempo a gente vai amadurecendo e vendo que a tristeza e dor não duram para sempre, apenas o tempo necessário - o tempo de luto - e depois passa. Depois um novo ciclo se inicia e o eixo da vida volta ao normal...
ResponderExcluirBeijos,
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